De tradutor a treinador
Estava a dar formação julgando-me ser a figura central de todo o evento. Como estava enganado! Há um homem, a quem chamam de tradutor, que assume um papel muito mais preponderante que o meu. Ele desviou o centro das atenções da minha posição central para o canto em que se encontrava. Eu estou arrumado ao centro, qual móvel já com caruncho. Convenceram-me a entrar num filme no qual me disseram ser figura principal! Verifico, com desalento, que não passo de um mero figurante principal. O tradutor é o actor principal, o homem que pode vir a receber o Oscar. Para além de actor principal é também o realizador do filme. Tudo bem... eu escrevo o guião mas ele representa somente o que quer, quando e da forma que quer. Ou muito me engano ou ele não diz tudo o que tento transmitir. É um papel ingrato este em que me encontro. Ouço uma voz carrancuda dizer coisas que não entendo e de forma distorcida. É como se a minha voz fosse um eco rebatido por uma montanha em pedra sinuosa. Igual a mim mesmo, vou transmitindo os assuntos com uma postura séria. Eles vão gargalhando a cada investida do tradutor. Não entendo como uma frase em inglês pode tornar-se numa piada em alemão, raios!
A respeito de traduções e tradutores, recordo-me ainda de uma situação bem mais caricata. Era um miúdo, a querer ser homem, com 16 anos. Nos bancos de trás de um Fiat Uno em segunda mão dava alguns dos meus primeiros beijos numa francesa que em terras lusas se lembrou de passar as férias. Também aí houve um tradutor, que sendo um pouco mais velho que nós, os do banco de trás, no banco do condutor ia dando as instruções. “Olha, ela está dizer que te acha bonito... Olha, ela está a pedir que a abraces... Olha ela quer que a beijes...”. Eu lá ia seguindo as instruções. Aliás, os procedimentos existem para serem seguidos e para nos aliviarem das responsabilidades. Naquele momento eu seguia o procedimento ou as instruções, instituídas pela francesa – ou pelo tradutor, nunca o soube com total certeza –, naquele momento ia até onde quisessem que eu fosse - é bom viver absorto de responsabilidades. Aí fui actor mas não fui realizador. Aposto que, também aí, o tradutor foi fazendo um pouco a história a seu bel-prazer, foi metendo um cheirinho de si no filme a que estava a assistir.
Dá um certo prazer ver tradutores com vontade própria, tradutores que não se limitam ao seu (limitado mas não ignóbil) papel de tradução, figuras apaixonadas ou que se vêm a apaixonar pelo tema que de forma parcial traduzem. Enganem-se os que pensam que os tradutores de que falei vão deixar algum dia o seu papel de tradução! - O tradutor do Fiat Uno deve ter hoje um carro mais sofisticado mas, tenho a certeza, continua a fazer o mesmo tipo de traduções. Estes tradutores dão-se à tradução mas só um bocadinho.
Há um tradutor que foge destas figuras: O tradutor Mourinho. O treinador Mourinho aprendeu enquanto prestava os seus serviços de tradução. Nunca conseguiu ser imparcial, foi mesmo descarado nas suas ousadias de tradução. Deu tudo de si àquilo que lhe era pedido. Deu ao corpo mas hoje tornou-se realizador e actor das traduções que em tempos idos fazia. Granda Mourinho!
A respeito de traduções e tradutores, recordo-me ainda de uma situação bem mais caricata. Era um miúdo, a querer ser homem, com 16 anos. Nos bancos de trás de um Fiat Uno em segunda mão dava alguns dos meus primeiros beijos numa francesa que em terras lusas se lembrou de passar as férias. Também aí houve um tradutor, que sendo um pouco mais velho que nós, os do banco de trás, no banco do condutor ia dando as instruções. “Olha, ela está dizer que te acha bonito... Olha, ela está a pedir que a abraces... Olha ela quer que a beijes...”. Eu lá ia seguindo as instruções. Aliás, os procedimentos existem para serem seguidos e para nos aliviarem das responsabilidades. Naquele momento eu seguia o procedimento ou as instruções, instituídas pela francesa – ou pelo tradutor, nunca o soube com total certeza –, naquele momento ia até onde quisessem que eu fosse - é bom viver absorto de responsabilidades. Aí fui actor mas não fui realizador. Aposto que, também aí, o tradutor foi fazendo um pouco a história a seu bel-prazer, foi metendo um cheirinho de si no filme a que estava a assistir.
Dá um certo prazer ver tradutores com vontade própria, tradutores que não se limitam ao seu (limitado mas não ignóbil) papel de tradução, figuras apaixonadas ou que se vêm a apaixonar pelo tema que de forma parcial traduzem. Enganem-se os que pensam que os tradutores de que falei vão deixar algum dia o seu papel de tradução! - O tradutor do Fiat Uno deve ter hoje um carro mais sofisticado mas, tenho a certeza, continua a fazer o mesmo tipo de traduções. Estes tradutores dão-se à tradução mas só um bocadinho.
Há um tradutor que foge destas figuras: O tradutor Mourinho. O treinador Mourinho aprendeu enquanto prestava os seus serviços de tradução. Nunca conseguiu ser imparcial, foi mesmo descarado nas suas ousadias de tradução. Deu tudo de si àquilo que lhe era pedido. Deu ao corpo mas hoje tornou-se realizador e actor das traduções que em tempos idos fazia. Granda Mourinho!
Ainda não sei se esta é a história de um homem que um dia quis ser treinador ou de um homem que a vida fez treinador, sei é que ela fez-me repensar o verdadeiro significado do adágio latino: “Gutta cavat lapidem saepe cadendo” - A gota esburaca a pedra à força de cair.
1 Bocas:
Muito bem sentido!
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